segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Eterno Retorno



"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"
Conceito do Eterno Retorno de Nietzsche, em A Gaia Ciência


Meu novo amigo Alex outro dia me apresentou esse conceito e nossa resposta à pergunta "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" foi a mesma: DEPENDE! Dependeria do momento que estivesse passando. Se fosse agora, por exemplo, eu diria que SIM, que viveria tudo novamente. Apesar de não ter nada descomunal acontecendo, acho, neste exato momento, que tudo que tenho vivido é válido. Apesar da dor dos últimos tempos, tudo que tenho vivido tem me feito crescer bastante e tenho certeza que muitas coisas boas estão por vir.


Mas cheguei a conclusão que não quero ficar dependendo de momentos. Quero ser sempre SIM para minha vida.  O que busco a partir de agora é dizer 'SIM, EU QUERO MINHA VIDA MAIS E MAIS', a qualquer momento, independente do que eu esteja passando, seja alegria, tristeza, angústia, dor, saudade, extâse,... os sentimentos sempre virão e voltarão, em um eterno retorno. E quero ter sempre a clareza, como tenho agora, que tudo vale a pena ser vivido.


A Alex que me faz retornar a escrever.
A Oscar que me faz retornar a dizer SIM à vida.
E a Biuzinha que eternamente me lembra que vale a pena dizer SIM à vida, independente do momento.




"Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos! Seja conhecida de todos os homens a vossa bondade. O Senhor está próximo. Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças. E a paz de Deus, que excede toda a inteligência, haverá de guardar vossos corações e vossos pensamentos, em Cristo Jesus." (Filp 4, 4-7)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A memória do ar

A memória do ar
      Oscar Gama Filho          

          Na homeopatia, uma substância é diluída e agitada dezenas ou centenas  de vezes no álcool e na  água, em um processo que se chama de dinamização. Apesar desta substância  estar em doses subterapêuticas, a memória da água e a memória do álcool   curam pela extração da energia obtida por meio da vibração de seus átomos: a  aceleração de seus átomos confere à energia neles contida o poder de curar, alterando a estrutura da água ou do álcool e deixando gravada nela seu traço de memória.
     Nós, humanos, estamos imersos em um meio comum: o ar.
     Na minha visão das coisas, da
memória do ar,  deixamos nossos traços em tudo que fazemos e pensamos. Afetamos tudo e todos e todos nos afetam com nossas escolhas: cada gesto, cada silêncio, cada inação e cada parada vão deixar uma marca na memória do ar, alterando indelevelmente a realidade. Nossa presença nos traços mnêmico-energéticos que envolvem a nós, ao nosso habitat e às pessoas com quem convivemos pode ser cura ou veneno, tudo depende da dose, como dizia Paracelso.   
           Na minha visão humanista, quando tento curar estou me curando também, quem se cura me cura. Já o mal em meu consultório — ou em meu lar ou em meu  coração ou alma — me adoece, possa ser sua fonte física, psíquica, espiritual ou estética. Por isso me lanço contra o Adversário, contra o feio, contra a dor, contra a angústia: quero eliminá-los com a psicologia, com a arte ou com a religião, pois a sua existência conspurca a minha. Somos todos iguais:
a homeopatia se baseia no princípio similia similibus curantur ("os semelhantes curam-se pelos semelhantes").  Cada um de nós é extensão do outro: sobrevivência coletiva ou nada. A memória do ar é uma homeopatia suprema, sobre a  qual deveria escrever um livro, tentar salvar o mundo e na qual reside a técnica mais importante dos Estados de Relaxamento: como uso a memória do ar do meu centro de forças, do meu consultório, para lançar esta energia em benefício de nós. Ela é a técnica espiritual, indizível e inefável que emprego, marcando minha alma com a imagem do bem para depois tentar imprimi-la feito tatuagem balsâmica nos que lá estão. 
          Nos Estados de Relaxamento, a ancoragem corporal que executo, tocando com meus dedos a região doente, dinamiza a energia patológica das substâncias, como na homeopatia, diluindo-a dentro do corpo do paciente, em um processo que acaba por transformar o veneno em remédio.  
        A memória do ar existe nas margens do que não há, como chance do que há de vir a ser.    



Texto do meu querido amigo Oscar, que me cura e purifica meu ar.